sábado, 15 de dezembro de 2012

A casa mal-assombrada


                          

Certo dia, um casal estava sentado à cama conversando. De repente, Ana pergunta para Pedro o que ele acha de irem passar uns dias na casa de sua avó. Pedro aceitou o convite, pois sabia que era disso que o casal precisava para sair da rotina.
Ana ligou perguntando para sua avó se eles poderiam passar uns dias por lá. Claro que sua avó aceitou, pois era muito sozinha e o lugar era muito monótono. Depois de tudo pronto para a viagem, foram para o que eles pensavam que seria o lugar onde teriam paz e tranquilidade.
Chegando ao pequeno vilarejo, notaram que, além de estranho e monótono, o lugar provocava-lhes uma sensação estranha, quase ninguém andava pelas ruas e as pessoas possuíam um olhar mórbido, que fez Ana sentir calafrios. Ao chegarem à casa de sua avó, voltou a ter sensações ruins, mas continuou quieta, sem falar nada, pois sabia que aquela era uma oportunidade em que poderia matar a saudade da avó, além de renovar seu relacionamento com Pedro.
Ao jantarem, Ana estava muito feliz por estar ali perto de sua avó e de seu amor, mas no fundo sentia-se estranha, como se a casa toda estivesse a observando. Depois de jantar, foram deitar e descansar da viagem. Como a casa era pequena e tinha apenas um quarto, improvisaram uma cama no chão da sala.
Na madrugada, Ana acorda, pois havia perdido o sono. Sentia-se mal, não conseguia dormir e não quis incomodar Pedro, que estava cansado da viagem. Foi onde as coisas começaram a acontecer.
Ana começou a ver vultos por toda a sala, calafrios percorreram seu corpo, como se algo quisesse agarrá-la. Ela entra em pânico e acorda Pedro, chorando e muito assustada. Ele tenta acalmá-la. Enfim a tranquiliza e eles voltam a dormir. Tudo parecia ir bem, mas Ana sente algo se aproximando, há uma respiração cada vez mais forte. Ela cria coragem para olhar, quando vira, encontra sua avó, que era sonâmbula e andara pela sala.
Muito assustada, Ana abraça Pedro e fica quieta, pois tinha medo de acordar sua avó, que estava em transe.
Ao acordar pela manhã, Ana resolver ir embora. Pedro ainda tenta acalmá-la e convencê-la a ficar, porém ela resolve ir embora, afirmando que a casa não a queria ali. A avó, mesmo chateada, entende a neta.
Depois disso, Ana sempre sonhava com aquela casa e com as coisas que lá aconteceram, mas não conseguia fugir, acordava chorando e assustada. Certo dia, soube que sua avó havia sido atacada e morta, como se tivessem a espancado até a morte.
Poucos dias depois, Ana recebe o testamento, em que estava escrito que ela ficara com a casa de herança. Pedro chega e a encontra trêmula e chorosa, apavora-se com seu estado. Ao saber da novidade, pergunta por que estava assim, pois ganhara a casa de sua avó que tanto amava. Ana, chorando, responde:
_ Como poderia receber uma carta da minha avó, já que ela não sabia ler nem escrever?

Autora: Sabrina Machado

Minhas pequenas felicidades


                                        
• Dormir bem juntinho;
• Dar bastante risada com os amigos;
• Matar a sede;
• Sentir coceira nas costas, alcançar e coçar;
• Assistir um bom filme com a namorada;
• Saber que um amigo que você gosta muito está muito bem;
• Panqueca de chocolate preto e branco;
• Lembrar-se de aventuras com os amigos;
• Ter dinheiro;
• Beber um bom vinho;
• Dormir que nem um bebê;
• Tomar um banho bem quente no frio;
• Praticar esportes;
• Dançar;
• Comer tubes de morango e pêssego;
• Estar com quem a gente ama;
• Abrir a geladeira ou o armário e encontrar o que queria comer;
•Andar de bicicleta (downhill);
•Escutar músicas;
• Acordar com a namorada dizendo “te amo”.

Autor: Misael Macari

O último encontro


                     

Este seria o dia mais feliz da minha vida ao lado do meu amor. Estava um dia lindo, como se Deus tivesse reservado este dia a nós. Era o dia em que faríamos um ano de namoro.
À noite, iríamos sair para comemorar este dia tão especial, que estávamos esperando há muito tempo. Ele viria me buscar às 20 horas. Eu estava muito contente, mas ao mesmo tempo estava com medo de que algo desse errado.
Já eram 18 horas, e então comecei a me arrumar. Queria ficar linda, como uma princesa esperando seu príncipe encantado. Coloquei meu vestido, meu sapato e arrumei meu cabelo. Estava pronta, só esperando ele chegar.
Mas tinha um problema! Por que eu estava com um pressentimento de que algo desse errado?
De repente parou um carro em frente a minha casa. Olhei pela janela e era ele, com um sorriso lindo me esperando.
Fomos jantar em um restaurante maravilhoso. Ele me olhava com um brilho no olhar. Mas por que não passava aquela sensação de que algo iria acontecer?
Terminamos o jantar e fomos embora. Ele me levou para casa, pegou em minha mão, olhou bem fundo nos meus olhos, disse que me amava e que queria passar o resto de sua vida ao meu lado.
Quando nós nos despedimos, deu um aperto em meu coração, comecei a chorar e nem sei o porquê.
Meia hora depois, toca meu celular, atendo e vejo que aquela voz não era dele. Então o homem que estava do outro lado da linha começa a conversar comigo. Ele diz que meu querido tinha sofrido um grave acidente de carro, e que viria a falecer.
Desabei em choro. Meu Deus, por que você fez isso comigo? Ele era uma pessoa tão especial para mim. Mas então eu pensei: “Foi um momento muito delicado em minha vida ao lado do meu amado”. Ele morreu, mas eu sabia que lá no céu ele estava feliz, pois os últimos momentos de sua vida ele passou com uma pessoa que ele amava muito e que cumpriu o seu dever aqui na Terra, fazendo uma pessoa muito feliz, que era a sua amada, “eu”.

Autora: Tayane Rosa Adamczuk

A ladra de olhares


Nunca fui o tipo de pessoa que se emociona com o sofrimento de pessoas de rua, sejam elas crianças ou idosas. Não sou insensível, muito pelo contrário, apenas acredito que essas pessoas têm opções e podem, claro que com muito esforço, mudar suas vidas para melhor. Emociono-me e sensibilizo mesmo com os animais de rua, afinal, como podem eles mudar seu destino nem sendo ao menos independentes? Não falam, não podem trabalhar e mal conseguem pensar direito seus atos. Não há como mudarem suas vidas por conta própria. Sempre que vejo um animal na rua, largado e sem rumo, me sinto infeliz. E por várias vezes me pego a observar concentradamente os passo de algum certo animalzinho desses.
Certa vez, como de costume, saí do curso que faço aos sábados pela manhã no centro de Gravataí e fui para a parada esperar um ônibus municipal. Deparo-me com uma cadela preta, de porte médio, deitada logo atrás da parada. Algo comum, realmente. Mas, como sempre faço e parece até que quando uma oportunidade dessas surge não tenho mais o que fazer, fiquei na parada de ônibus, de modo que eu pudesse enxergá-la, observando a pobre cadela. Assim que a olhei, ela me olhou também e ficou fitando-me por uns longos dez segundos com o olhar mais digno de pena que já vi. Eu não havia almoçado ainda e nem ia, aquilo embrulhou até minha alma. Mesmo depois de ela ter parado de me olhar, eu continuei observando-a e o que ela fez comigo tentava fazer com as pessoas que passavam por ela; a todos que passavam, ela olhava com convicção. Parecia estar mendigando olhares, queria, de algum modo, ser notada e sabia que não estava sendo. A não ser por mim, tanto que me olha novamente e, aparentemente incomodada sob meu olhar, ela se levanta. Estava magrinha, com a pele maltratada e bem abatida. Ela andou por trás da parada de ônibus, eu via apenas suas patas por debaixo da parada. Quando consigo vê-la novamente, ela está olhando para um rapaz que passa meio apressado, de terno e com mochila nas costas, ela o olha até não poder mais. Logo troca de vítima e a próxima é uma senhora que anda em ziguezague e quase esbarra nela, que dá um súbito passo para o lado.
Imagino a tristeza daquela cadelinha querendo um colo, um carinho, um pouco de água e comida, tentando prender olhares em frente ao mercado Carrefour. O meu olhar ela conseguiu. De repente, ela me olha, dá as costas para mim e olha-me firmemente de novo, como uma despedida e um “obrigado por me notar”, e vai embora devagar, passos lentos de fome e exaustão. Enquanto isso, eu a vejo ir embora com vontade de leva-la para casa e cuidar dela, porém não posso. Eu gostaria de cuidar de todos os animais de rua, mas se fizesse isso toda vez que sinto vontade, eu seria dona de um canil. Eu a perco de vista e volto a esperar meu ônibus normalmente. Senti que havia acabado de sair de um transe canino.
Meu ônibus demorou, mas finalmente veio. Fui para casa pensando na cadela preta que hipnotiza pessoas para roubar olhares. Nunca mais a vi.
                   

Autora: Juliana Rosinski

Faça a diferença


                         
Hoje é domingo de manhã, o sol brilha lá fora, ouço o som dos pássaros cantando, abro a janela do meu quarto e vejo quão belo está o dia, sinto uma suave brisa soprando em meu rosto, um momento inspirador me fez parar para pensar e refletir nas coisas que já fiz e momentos que vivi. No entanto, uma coisa me perturbava, perguntas vinham em minha mente, o que eu posso fazer para mudar a realidade em que vivemos? Em um mundo onde há fome, guerras, preconceitos, discórdias, o que posso fazer? Como? Essas perguntas não saíam da minha mente.
À tarde, saí para caminhar na beira da praia, porém aquelas perguntas continuavam. Enquanto caminhava, avistei ao longe um menino que jogava a todo instante uma coisa no mar, me aproximei e perguntei-lhe: “o que você está fazendo?”. Ele me respondeu: “estou jogando estrelar do mar de volta ao oceano”. Eu disse a ele: “são muitas, você não vai conseguir salvar todas”. O menino se abaixa, pega uma pequena estrela do mar e me diz: “para essa aqui vai fazer a diferença”.
O sol já começava a se pôr e eu continuava à beira da praia, pensando no gesto daquele menino. Pessoas passavam por ali e nem dava importância para aquilo. Assim acontece em nossa vida, pessoas não se importam umas com as outras, só pensam em si mesmas. Aquele menino ensinou-me uma importante lição: “Não espere que as coisas aconteçam sozinhas, faça você a diferença, faça as coisas acontecerem.” Não é preciso grandes coisas para mudar o mundo – alimente alguém que está faminto, vista alguém que está com frio, sorria, demonstre carinho, atenção. Talvez você não mude o mundo, mas pode transformar a vida de uma pessoa, pequenos gestos fazem uma grande mudança. Faça a diferença.

Autor: Alyson Machado Guerino

Vitrine



Segunda-feira, sete e meia da manhã. Atrasado, levanto-me mais célere do que nunca. Escovo os dentes e sussurrando digo: “Pai, hora de sair!”.
Ao chegar ao colégio, o de sempre ocorre: três períodos intermináveis de História, seguidos de um recreio de quinze minutos – como se este fosse suficiente para recarregarmos as energias de maçantes cento e trinta e cinco minutos de aula.
Olho o relógio e já são 11h45min, momento em que me torno senhor de mim e saio com destino à parada de ônibus. 12h15min e aqui estou, livre de professores e deveres por pelo menos trinta minutos, tempo que levo até meu curso, onde tudo começa outra vez.
Dentro do ônibus me acomodo próximo à janela e lá sou apenas eu e meus fones de ouvido. Sintonizo em uma boa estação e me permito durante este período apenas assistir a correria sem participar dela, como se estivesse em frente a uma vitrine.
Como de costume, na primeira parada, uma moça loira de óculos escuros congestiona o fila, afinal, ela sempre demora para encontrar a niqueleira de onde tira infinitas moedas. Logo após, um senhor meio calvo entra cumprimentando a todos com um sorriso sempre estampado, porém de olhar triste. Ao olhar através da janela, um fusca vermelho estaciona em frente à padaria do Seu Joaquim – são seus filhos chegando da escola.
Mais à frente, umas três paradas depois, uma criança ruiva com sardas espalhadas por toda a face chora para entrar no ônibus. E mais uma vez sua mãe envergonhada lhe dá um discreto “puxão de orelha” e balbucia: “Em casa a gente conversa!”. Pergunto-me até hoje se isso realmente acontece.
E assim vou até o terminal da capital, no qual espero em média quinze minutos para que o percurso continue. O motorista acena para o guarda que se encontra sempre em seu devido lugar, e de lá grita: “Tarde, Seu Zé!”.
Poderes sobrenaturais? Não, longe disso. Não passa de uma experiência de um jovem que passa grande parte de seu tempo olhando “vitrines”.
No entanto, enquanto observo atentamente todas as cenas e adivinho o que acontecerá a cada instante, algo me chama muito a atenção. Meus olhos fitam-se de imediato. Não tão longe, perto das escadarias do terminal, uma mãe e um filho, de mais ou menos uns seis ou sete anos, trocam gestos afetuosos. A mãe entrega-lhe um lanche, apanha uma mochila do chão e a coloca no garoto, pronunciando palavras claramente decifráveis: “Hora de entrar no ônibus!”.
Entrar pra quê? Ir pra onde? Deduzo pelo contexto que este seja talvez seu primeiro dia de aula, ou o primeiro dia em que sozinho embarcará em um transporte público.
A mãe lhe dá algumas coordenadas como se fosse um guia turístico mostrando-lhe o caminho a seguir. O menino, em contrapartida, parece nada estar contente com a situação. Apanha um punhado de moedas contadas atenciosamente pela mãe e põe-se a chorar. A mulher, com marcas expressivas que o tempo lhe causou, parece estar atrasada para algum compromisso. Ela não tira os olhos do relógio, demonstrando nitidamente estar dividida entre o afazer e o filho.
Assim, o menino a abraça, como se aquele fosse o último dia de sua vida, e embarca no ônibus. O garoto entra, e passando as mãos entre os assentos como uma espécie de brincadeira, senta-se coincidentemente ao meu lado. Enxugando as lágrimas, aquele ser inócuo e que nada conhece do ambiente em que se encontra volta-se para mim e abre um sorriso cabisbaixo.
Passam-se os quinze minutos, o ônibus arranca e a mãe do garoto, mesmo atrasada, continua ali, resoluta e detida em seu filho. Atira-lhe um beijo e o menino, agora mais calmo, já que o ambiente lhe obriga, corresponde.
Durante o percurso, um telefone toca. O garoto ao meu lado retira do bolso um daqueles aparelhos antigos, os quais têm com única serventia fazer ligações. “Estou bem, mãe”, fala o jovem.
Agora são 14 horas e aqui estou absorto na explicação do professor. Porém, aquela cena, aqueles olhares trocados e todo aquele amor sem reservas de uma mãe para um filho, não me saem da mente. Amor capaz de suportar sacrifícios, por mais dolorosos que sejam. Amor capaz de manter duas pessoas juntas, sejam quais forem as dificuldades que passem. Amor que nos acompanha antes mesmo do nascimento e que nos ensina que, por mais afastados que estejamos, sempre estaremos ligados um com o outro. Amor que existe, mas que é difícil de notar.
Difícil por quê? Tornou-se inexistente? Não. Basta tirarmos tempo para olharmos atentamente e percebermos os pequenos detalhes da vida. Palavras de um jovem que passa grande parte de seu tempo olhando “vitrines”.

Autor: Nicolas Rodrigues

O menino pobre


A caminho do parque, sento num banco numa praça qualquer de Gramado, não tendo muito que fazer, começo a ler um livro que trouxe de casa.
Quando volto a olhar ao redor, vejo um menino sujo, com roupas rasgadas e aparentemente com fome, com a cabeça baixa, parece estar com frio também, os olhos parecem estar implorando por carinho e amor.
As pessoas passam e nem percebem a presença do menino ali, só querendo um olhar carinhoso.
Passado algum tempo, vejo um homem que parece estar com dó da criança, ele se aproxima do menino, diz uma meia dúzia de palavras e sai, percebo que o menino fica esperançoso e com um brilho nos olhos. De repente, o mesmo homem volta e traz consigo um sanduíche simples e um copo de refrigerante.
 Nesse exato momento, o rosto do menino se ilumina e um grande sorriso sai de sua boca. O homem entrega para o menino o sanduíche e o copo, no mesmo momento o menino se põe a comer com tanta vontade e gosto. Ele fala alguma coisa e abraça o homem que, espantado, retribui o abraço, dá um beijo no garoto e vai embora. O menino fica ali, com um grande sorriso a olhar quem passa como se tivesse realizado seu maior sonho.


Autora: Bianca Martins